
ela não
temia o escuro. o incerto não a afugentava. o improvável não a
desanimava. o proibido ela já conhecia. mas ela, ah ela.. tinha bastante
medo de si.
medo das
suas vontades, das suas certezas. dos questionamentos dessas próprias
certezas que, apesar de certezas, viviam em constante avaliação.
ela tinha medo de ter vontade, de criar vontades e expectativas tão
grandes a ponto de serem maiores do que ela. era seu anticorpo maior.
apesar de ora covarde, ora valentona demais, sempre ficava atada diante
da deslealdade das expectativas que ela mesma criava. mesmo andando com
tais desleais no escuro, com as vontades claras - mas nublada pelo medo -
ela sempre parava de caminhar quando se perdia.
ela está parada.
de frente a porta da vontade, e em suas costas a sua própria, a porta do medo.
ela acha que pode aguentar.
joga bilhetinhos por baixo da porta da vontade. toca na porta de leve.
até segura a maçaneta. queria ouvir! desacordos, decepções.. estímulos,
qualquer coisa! .. mas ela queria.
algo que a deixasse certa.
não precisava de absolutismo, de precisão.
ela nunca foi assim.
mas não simpatizava com o desconhecido.
a porta - aquela porta da vontade - aparentemente só abre de fora pra
dentro. de dentro pra fora, tudo que se ouve são ecos dos bilhetes, dos
toques, da mão tremida na maçaneta. o que há atrás da porta?
ela preferia o medo. sua porta do medo não a deixava tensa. permanecia
simplesmente conformada. de que ser grande no sentido de não se
envergonhar por escolher o medo, pois ele existe porque algo grande pode
ser perdido.
e, por mais que sempre pensasse em abrir a porta da vontade, e talvez
nunca chegasse a fazê-lo -- podia seguir carregando consigo a vontade,
mas não qualquer arrependimento ou decepção grande: só medo.
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